. O BOXER E OS GRUPOS SANGU...
Grupos Sanguíneos Caninos
Os glóbulos vermelhos (eritrócitos) são um dos componentes do sangue que tem como função assegurar a manutenção do estado funcional da hemoglobina, sendo o pigmento respiratório que tem por função transportar oxigénio e a parte do gás carbónico no sangue. Tem duração de 120 dias sendo eliminados pelo baço e produzidos pela medula óssea. A diminuição ou aumento exagerado destas células provocam inúmeras doenças como por exemplo a anemia. Estas células têm na sua membrana um antigénio que se liga aos, por todos conhecidos, anticorpos. Os antigénios são de constituições diferentes levando a denominação dos conhecidos Grupos Sanguíneos.
Nos humanos existem mais de 20 grupos sanguíneos apesar de normalmente só ouvirmos falar do Grupo O, A, B, AB. Este facto deve-se a que apenas estes provocam reacções transfusionais graves e passíveis de morte. Os restantes são utilizados em pacientes que por alguma razão já sofreram varias transfusões e que ao desenvolver os restantes muito menos sensíveis, podem nesta fase, criar problemas.
Quando um humano recebe uma transfusão de um grupo diferente, o sangue desse receptor produz anticorpos contras essas células uma vez que essas são estranhas ao organismo. O mesmo se passa na transfusão de órgãos humanos (obviamente com muito mais células e anticorpos envolvidos), mas na verdade quando dizemos que só somos compatíveis com determinado grupo sanguíneo é o equivalente a não sermos compatíveis com determinados órgãos. (quem nunca ouviu falar de transplante renal, hepático, cardíaco, etc.). Uma transfusão não é mais que um transplante, neste caso de células.
Nos cães tudo se passa à semelhança dos humanos. Os eritrócitos também possuem antigénios denominados DEA (Dog Erythrocyte Antigen).
Já foram catalogados mais de 20 grupos sanguíneos caninos, porém apenas seis DEA apresentam importância na Medicina transfusional (DEA 1.1, 1.2, 3, 4, 5 e 7).
Nestes, o DEA 1.1, 1.2 e 7 são os que apresentam maior risco de reacção transfusional com maior ênfase aos DEA 1.1 e 1.2.
Os grupos sanguíneos que comprovadamente podem provocar reacções transfusionais agudas são o DEA 1.1 e 1.2. Os antigénios DEA 3, 5 e 7 poderão induzir reacções retardadas e menos exuberantes.
No cão não existem anticorpos (para os eritrócitos) circulantes no sangue. E por isso, ao contrario dos humanos só irão produzir anticorpos na 1ª transfusão. Este facto é o responsável por durante milhares de anos o cão receber transfusões de um cão qualquer (sem qualquer tipo de analise) muitas vezes ate propriedade de um dos veterinários. Nesta altura, quando o animal necessitava de uma 2ª, 3ª ou mais transfusões os problemas surgiam sem que se soubesse a razão.
Agora, sabemos que a partir da 2ª transfusão, (pelo facto de já existirem os tais anticorpos criados na primeira) a possibilidade de reacções transfusionais aparecem com as mesmas consequências dos humanos.
Pensando que o DEA 7 pode induzir reacções menos exuberantes a medicina transfusional veterinária, dá obviamente, mais importância aos 1.1 e 1.2.
A semelhança do humano, todos ouvimos falar dos famosos “dadores universais” que são o Grupo Oneg. No cão esse grupo refere-se ao 1.1neg. Ou seja, na verdade o que interessa mesmo é ter um enorme número de dadores com o grupo 1.1.neg, pois estes servem para todos os cães.
Tal como em vários países a prevalência de cães 1.1 é superior à 1.2. No entanto o 1.1pos é superior ao 1.1neg. Assim, convém termos a noção e estudos que nos digam a prevalência dos diferentes grupos sanguíneos distribuídos pelas diferentes raças de cães.
O nosso maravilhoso BOXER
Como foi referido, também em Portugal a percentagem de DEA 1.1pos é ligeiramente superior aos DEA 1.1neg. E no que refere à distribuição dos mesmos entre raças no nosso pais os números existentes são:
“A partir de uma amostra de 274 cães, 56.9% são DEA 1.1-pos e 43.1% são DEA 1.1-neg. Todos os BOXER’S, Pastores Alemães e Dobermans são 1.1-neg enquanto todos os São Bernardos, 88,9% de Golden Retrievers, 88.2% Rottweillers e 61.4% de SRD são 1.1-pos. " in Frequency of dog erythrocyte antigen 1.1 expression in dogs from Portugal, dos autores Rui R. F. Ferreira, Rafael R. Gopegui e Augusto J. F. Matos.
Nota: Devido ao facto de a amostra ser relativamente pequena não podemos afirmar que não existem cães destas raças que não sejam 1.1neg, mas será certamente uma minoria. Estes valores são reprodutíveis noutros países, o que valida de alguma forma o pequeno número de amostras.
Podemos ainda referir, para os mais interessados, que um cão após ter dado sangue o seu número de glóbulos vermelhos (eritrócitos) é reposto em 42 dias. No entanto apenas poderá existir uma menor performance nos 7 dias sequentes à transfusão e apenas em animais cuja prova seja de um enorme gasto de energia (corrida, Agility, …).
Mais informações em: Banco de Sangue Animal
As seguintes imagens são de boxers registados como dadores no Banco de Sangue Animal.